O Deus que me toca





1 - O Silêncio da Cruz invisível

                                Em todo perimetro dessa terra,
                                em cada pedaço de todo esse chão,
                                Ouça os gritos, sons de uma guerra,
                                O Homem,      a sua atitude de fera,
                                Fragmentando a vida, e sua emoção.
                                                                    Zamarenho.


                     A - O litígio.(A direção do momento) 

               O mundo contemporâneo está representado por uma imagem simples e rápida de ser associada com sua situação : A imagem de guerra.

               Blocos, Continentes, Países, Estados, Cidades, Bairros, Famílias, estão ambos empenhados no comportamento competitivo, na busca unilateral de vantagens a qualquer custo.

               Esta competição, assemelha-se à guerra. Salvo algumas regras "éticas" que se fundamentam no "Toma lá - Dá cá ( dou isto para que me dês aquilo.)",  no mais, o objetivo é  acumular de um lado, esvaziando outros.

               Exemplo disso; os interesses econômicos, insistentemente relatados como indispensáveis, e que no entanto, estão erodindo a "pele" do planeta. Outro exemplo, a sala de aula, mesmo a fundamental, onde a criança é estimulada a competir, e em caso de insucesso momentâneo, é ensinada a "dar a volta por cima" e retornar à competição. O  lema "O importante não é vencer mas sim participar"(sem asterisco no final da frase), parece observação de rodapé, com a finalidade de ficar no rodapé.

               Um olhar, até mesmo distraído, dirigido para a atualidade social, econômica, e política, recebe como reflexo, uma visão de dificuldades generalizadas em todos esses segmentos, e que a curto e médio prazo, não se modificarão pelo exato motivo de estar cada segmento, cristalizando-se.

               As consequências mais relevantes desse estado de coisas ou de guerra, nos é apresentado diariamente pela mídia, entretanto, essa apresentação de consequências ou sintomas só eventualmente faz alusão a causa real. Quase sempre, todas as consequências ficam na conta da natureza, do acaso, ou da falta de sorte.

               Neste cenário observamos as pessoas, tal qual soldados em campanha, atacando e defendendo posições, não restando quase nenhum tempo livre para descanso.

               "A Paz não visita este litígio."


                                                 ***


              B - A química .(O presença no litígio)

              Seu noticiário, não prima pela visão de movimentos mais sutis que porventura estejam ali presentes. O ruido e o clarão das batalhas impedem a audição de notas mais suaves, tanto quanto impedem a visão de movimentos extraordinários, em fluxo contrário ao da luta e da destruição.

             Na guerra por exemplo, o trabalho insano da Cruz Vermelha(1), ocorre em meio à catástrofe, e a despeito da mesma, envida  seus esforços na direção contrária: "Preservar a vida enquanto o fenômeno move-se no sentido de termina-la". Em outro espaço silencioso, estão rezando em lágrimas, as progenitoras, as esposas, os irmãos, e os filhos de soldados que eventualmente, não voltarão para seus lares, ou em uma instância menos dramática, voltarão mutilados. Uns mutilados fisicamente, outros psicologicamente. Ainda há o espaço silencioso da natureza que sofre com as consequências imediatas do litígio, e ainda assim, permanece refazendo-se dentro de seus deterministicos processos naturais.
   
             A Cruz Vermelha preserva o Homem tanto quanto possível, os Parentes emanam o sentimento de proteção e esperança, e a Natureza guarda em sua agonia o que lhe é possível refazer para a sustentação desse mesmo Homem.

             No campo da competição em que o mundo hoje mergulha, levando consigo todos sem determinação de idade ou gênero, sem escolher as tendências de cada qual, e ainda sem se ocupar com as condições de continuidade(as consequências do fenômeno em si), há também um movimento em sentido contrário. 


               "O litígio abre espaços para a Paz."

                                                 ***

               C - O Refluxo. (Amenizando anonimamente).


              Citamos a Cruz Vermelha como um dos movimentos de conservação da vida e recuperação de perdas derivadas da destruição, com o intuito de observarmos um fenômeno dentro de outro fenômeno.
 

              Escolhemos a Cruz como símbolo do esforço na direção de transformar o estado fragmentado na dor e no desconforto, em um estado de esperança, no qual, passado o furor da crise, os contendores abram suas vias de percepção para uma nova consciência.
 

              É dentro desse estado de coisas, dentro desse fenômeno caótico, dentro desse desgaste contínuo de forças, que outro fenômeno se manifesta.
 

              Uma Cruz silenciosa - invisível à consciência de guerra, transparente para os interesses momentâneos, e utópica para os objetivos almejados - movimenta-se em sentido contrário.
 

              No epicentro da conturbação, onde o silêncio está solitário, uma Cruz Invisível, atrai incansavelmente os desertores e os gravemente afetados pelo litígio.
 

              O trabalho anônimo que busca conservar os valores reais da vida, inicia-se no contato com aqueles que já não podem mais possuir ou dedicar-se a esses valores.
 

              Essa Cruz é materializada por personagens dedicados à tarefa de fazer ouvir o som em um ambiente cujo vácuo, não lhe permite propagação. Ainda assim sua palavra ecoa nas paredes firmes do litígio, e irradiam pelo espaço interno, alcançando cada vitima que por ali tenha se refugiado.
              

              "Fora deste espaço silencioso, somente a letra prossegue."
              

              Constantemente, a Cruz, em forma de letra,  flutua silenciosamente entre os campos de luta, e vez por outra, reflete como luz na percepção dos mais desesperados, quando então, a letra se torna palavra e essa palavra, se torna som dentro do mais profundo silencio da vitima da catástrofe. 

             Então surge a hora de buscar o abrigo, o refúgio, e o socorro.


            "O toque da Cruz, é a semente da ânsia pela busca da Paz."
             

             A palavra enfática pregada pelos seus emissários, permite um retorno à razão os mais extremados que, em sua alienação, fragmentaram suas vidas, e agora, agonizam sem meios de continuar a luta vã, por ilusões que se repetem por toda a história da civilização.
             

              A palavra como o verbo, toca o Homem, e o Verbo o resgata.

             "A palavra é o pensamento de Deus."
 

             "Para o Homem, a palavra é o Toque de Deus."
 

             "A Cruz invisível, no silêncio, faz o seu trabalho."

 
             "A Paz visita o Litigio."



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2- A Fé Consciente.

          A - fragmentos de fé.(confiança,segurança, e poder)
          

          Confiança, segurança, e poder,  são esses os sentimentos Humanos, quando plenamente conscientes de suas capacidades físicas. Seja nos esportes, no trabalho, na vida social e outras.

          Confia no calculo mesmo desconfiando de possíveis falhas nos resultados, assegura-se no conhecimento mesmo na incerteza de surpresas, e sente o poder de atuar apesar de desconhecer a maioria dos obstáculos ainda não experimentados.

          Esta dimensão, a física, permite ao ser Humano, a relação com as coisas do mundo, e com o resultado de sua experiência, permite caminhar-se por toda a vida, consciente dos resultados mais imediatos e consequentes de sua própria atuação, embora ainda tenha uma espécie de precaução frente a todas as coisas.

          Esta é a fé nas coisas. Uma fé que se fragmenta, e vem de fora para dentro do Homem, ou seja, é adquirida por experiência nas relações com as coisas.

          "O conhecimento é a fé fragmentada."

          Manifesta-se por entendermos que, aquilo é assim ou não, comparando tudo a outros fragmentos.

          É produto do campo da análise que fazemos de cada coisa, fato, ou pessoa, e nos revela manifestações isoladas de cada componente desses três elementos acima citados.

          Essa fé, é quase automatica. Nossos reflexos de defesa, de preservação, e continuidade da espécie, de busca de satisfação sensória, são automatismos adquiridos, não necessáriamente precisamos pensá-los para que os manifestemos, embora muitas vezes possam falhar perante nossas expectativas.

          Estamos aqui no campo material, no campo físico, no estrutural e da forma.

          Somos ainda um extremo, quando nos entendemos no campo físico, e atuamos através de simples resposta automática aos fenômenos que nos cercam.

          'Esse extremo, é um processo.'

          Exista o que for além de nossa percepção física, estamos neste patamar, seguindo um processo, um módulo de um sistema que ainda não alcançamos em toda a sua abrangência, ou melhor , não lhe conhecemos além da análise parcial de seus fragmentos, não estamos conscientes de um patamar de síntese. O máximo que alcançamos com esses comportamentos, são ações isoladas, relativas, o que é muito distante de ações conjuntas e absolutas.
         
          Então, nossa atuação é essencialmente individual, muito distante de um comportamento cooperativo, exatamente por não percebermos outras grandezas que estão vinculadas a nossa totalidade como seres que sentimos como individuais.

          Por isso, a fé fragmentada, é um recurso tanto de defesa quanto de sustentação e continuidade da vida.

          Consequentemente, retornamos a considerar que, com esta consciência de fragmentos, corriqueiramente partimos para a disputa pela busca das vantagens próprias, e muitas vezes, sem nos preocupar com o prejuízo alheio. (Ver capitulo 1 - O silencio da Cruz Invisivel.)

          Nosso veículo físico sensório, aquele que recebe as sensações do contato com o ambiente, cerca dentro de nosso individualismo tudo que sentimos, como propriedade exclusiva, e que nos condiciona frequentemente, a responder ao meio ambiente, com participação plenamente individualista. Como se na verdade sentíssemos que estamos literalmente separados de tudo o mais, e ainda assim conseguíssemos fazer trocas entre nós e os demais seres, coisas, e fatos.

          "Fragmentos da fé não conduzem à Sabedoria"

                                   ***


          B - Reconstruindo a fé (desconfiando das coincidências)

          Dentro de nosso individualismo, por vezes recebemos pequenos choques, de natureza involuntária a nossa vontade, e sistematicamente, desconsideramos o momento em que ocorrem, o que fatalmente atrasa nosso poder de domínio sobre fenômenos de sentimentos e emoções.

                 São esses choques, os atratores que podem nos permitir uma reavaliação da individualidade que praticamos,  ou seja, aquela que nos dá como citamos anteriormente, a sensação de estar separados das demais coisas, fatos, e pessoas.

            Obviamente, somos separados em nossa natureza física, entretanto, não somos apenas seres físicos como muitas vezes acreditamos, e quase sempre sentimos. Há algo mais no ser humano, e não é nenhum esforço compreender as duas dimensões mais visíveis em nossa natureza. Natureza física, aquela que nos dá a sensação de existir no mundo, e Natureza mental, cuja propriedade, nos dá a sensação de existirmos dentro de nós mesmos.

             Os choques, os atratores, são eventos que ocorrem e que por sí só, relacionam entre si, nossas duas naturezas mais ostensivas. Liga o corpo e a mente em um processo de continuidade de relação. Mas para reconhecer essa relação, devemos estar em estado de prontidão, ou seja, atentos ao fenômeno. Quase sempre nos passa desapercebido, mas algumas vezes, o efeito não desaparece sem deixar algum rastro. 

              Conhecemos as "coincidências".  

               Não podemos negar essa circunstância. Muitas vêzes, e de forma geral, entendemos alguns fatos como processos coincidentes, e os deixamos nessa conta. Para nós a legenda das coincidências é "aleatoriedade", e portanto, simplesmente, algo que aconteceu aqui e ali, coincidiu.

                Mas, há um fenômeno diferenciado dentro desse assunto.

                Há "coincidências significativas", ou em termos mais científicos, sincronicidade.

                Muitas vezes, durante nossas vidas, esse fenômeno nos visitou, embora quase sempre, tenhamos desistido de considera-lo efetivo, pouco tempo depois de tê-lo reverenciado como 'providencial'.



                Nossa guerra diária não nos deixa espaço para observar detalhes tão sutis, como são esses choques.
 

                Entretanto, o amadurecimento do ser humano, quando atinge o patamar satisfatório, permite perceber esses choques, e notar que ocorrem demasiadamente na vida.

               Imagine que você está com uma conta para pagar hoje, o banco vai fechar daqui a meia hora, e você não conseguirá chegar a tempo, pois está sem condução. Em seguida um vizinho te procura, perguntando em qual loja de acessórios para computadores você comprou seu novo notebook , pois está necessitando determinado componente que com certeza, irá encontrar na mesma. Imediatamente você busca em seus arquivos de memória, e o que vê, é exatamente a agência do banco ao lado da loja. Muito bem, além de atender seu vizinho, você foi com ele de carona ao banco e resolveu o problema.

                 Sua prontidão será imediata nesse caso. Perceberá a incrível "coincidência", e a batizará de providência.
                 
                  Ocorreu uma sincronicidade. A percepção é o choque acima referido. O efeito agora é a questão.

                  Como foi citado, os choques ocorrem demasiadamente nas nossas vidas, e muitas vezes não os percebemos e mesmo tendo percebido, assim que passamos para uma  próxima etapa de preocupações, os esquecemos.

                   Alguma coisa mais parece estar sinalizando para que juntemos as partes, concentremos nossos fragmentos, e estabeleçamos um estado de prontidão mais eficaz na observação das manifestações corriqueiras da vida. 

                   A mente, deve trabalhar em sintonia com o corpo, pois há um sincronismo entre físico e mental, e quanto mais afinados, melhor o resultado geral de participação do ser no ambiente.

                   Falamos da fé fragmentada quando analisávamos a fra- 
gmentação dos indivíduos, e que isso derivava de sua percepção física da exterioridade das coisas. Agora falamos da reconstrução de um estado sensório, onde a mente é o gerenciador de sua formação. 

                   A reconstrução da fé no contexto mental.  

                   Nesse patamar de manifestação, estamos utilizando nosso senso , nossa inteligência, nossa mente, como recurso para extrapolar todo caos de nossa guerra diária, para ouvir e enxergar um perímetro de silêncio que se faz presente. Desconfiamos das coincidências, pois na maior parte de suas ocorrências, de uma forma ou outra, nos foi providencial. Tal como a Cruz invisível, em seu silêncio, a sincronicidade nos envolveu muitas vezes, direcionando alguma nova ordem em nossa atenção, e foi ou não olvidada.

                   "A escada da Sabedoria tem a Fé como degraus"
             

                                                                                      Zamarenho


...continua...

C - advento da fé . (a certeza, a fé consciente).


Referências.

1.            Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma organização humanitária, independente e neutra, que se esforça em proporcionar proteção e assistência às vítimas da guerra e de outras situações de violência. 
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Comit%C3%AA_Internacional_da_Cruz_Vermelha




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